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The Opinion by Bernardo Correia, Country Manager, Google Portugal

The Opinion

by Bernardo Correia, Country Manager, Google Portugal

O papel da Inteligência artificial como motor do comércio transatlântico

Quem não se lembra da primeira vez que teve acesso a um computador pessoal? Das primeiras vezes que foi à internet? Do seu primeiro telemóvel? Do seu primeiro smartphone? Momentos mágicos que definiram as nossas gerações e que nos permitiram assistir à democratização da informática e da informação. Hoje, todos aqueles com um smartphone têm no bolso um pequeno supercomputador com acesso a quantidades de informação com que outras gerações poderiam apenas sonhar. Vivemos no nosso próprio filme de ficção científica.

Estamos agora a assistir a um momento igualmente mágico: daqui a uns anos vamos lembrar-nos das primeiras vezes que interagimos com Inteligência Artificial, da mesma forma como eu me lembro tão bem do meu primeiro ZX Spectrum, dos barulhos estridentes do modem ao aceder à internet primordial, do meu primeiro Motorola, ou do meu primeiro Android. A IA é a próxima grande mudança – uma tecnologia que pode vir a ser tão transformadora para o mundo como a descoberta do fogo ou da eletricidade.

Se para os utilizadores comuns os benefícios da IA em termos de apoio às tarefas quotidianas e criativas são já óbvios e imediatos, para as empresas eles podem ser resumidos numa única palavra: produtividade.

Se a nível mundial o valor do potencial económico da IA foi estimado entre 17 e 25 biliões de dólares, em Portugal, de acordo com um estudo da Public First, estamos a falar de qualquer coisa como 15 mil milhões de euros ou 6% do PIB. Não é segredo para ninguém que o desafio maior da economia Portuguesa é mesmo o da produtividade. Sabendo que a IA é uma oportunidade para dar a volta a esse déficit histórico, temos de, em conjunto, conseguir agarrá-la com ousadia e responsabilidade.

Mas o que significa isso na prática? O que temos de fazer? As aplicações de IA nos negócios são transversais, mas por hoje vou focar-me no que melhor conheço: no desenvolvimento de novos produtos e sua comercialização (ou seja, em marketing).

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Costumo dividir os impactos da IA nas marcas em 5 grandes pontos principais:

  • Inovação e desenvolvimento de produtos e serviços: com a IA podemos sonhar com produtos nunca antes vistos. Por exemplo, a Portuguesa Inductiva está a desenvolver simuladores de processos industriais baseados em IA que permitem poupar enormes quantidades de tempo nos testes de novas peças e componentes.
  • Analítica de dados preditiva: utilizar dados de forma responsável não só para aprender com o passado, mas tentar prever o futuro com a ajuda da IA. Por exemplo, a a retalhista de moda holandesa OMODA conseguiu usar analítica preditiva baseada em IA para resolver o seu maior problema: as devoluções de roupa no comércio eletrónico, prevendo corretamente se items iam ser devolvidos em 70 a 75% das encomendas. Teve, como resultado, o aumento da margem de lucro em 14%.
  • Aceleração de todos os processos de marketing: tendo sido um marketeer durante mais de uma década, penso nas horas que investi em escrever briefings e a montar apresentações de centenas de slides. Hoje em dia, ferramentas de produtividade como o Gemini no Google Workspace permitem a partir dos dados que a empresa já tem automatizar a criação de documentos e apresentações, passando para minutos o que antes levaria horas.
  • Hiperpersonalização em escala: eventualmente o sonho de qualquer marketeer: a ideia de criar milhões de produtos ou anúncios personalizados, num mundo em que o processo de decisão do consumidor é cada vez mais fragmentado, sem a complexidade e custos que isso normalmente acarretaria. Hoje em dia, uma nova geração de ferramentas de comunicação permite-nos fazer exatamente isso: ferramentas como Google Performance Max são capazes de criar e gerar em segundos milhares de anúncios que se adaptam ao utilizador, ao ecrã e à plataforma onde está a ser mostrado. Para empresas como a Portuense B-Parts, ferramentas destas vieram aumentar a receita nos mercados internacionais em 250%.
  • Otimização de investimento de media: a Portuguesa Worten, que dispensa apresentações, observou que, com a segmentação inteligente de audiências, as suas taxas de conversão em certas categorias de produtos subiram entre 3 a 10 vezes, aumentando a eficiência e resultados das suas campanhas.

Ao fazer tudo isto, as marcas e empresas portuguesas podem ambicionar a concorrer em mercados com níveis de produtividade muito mais elevados do que os habituais no nosso país. Empresas como a Bizay, Indiecampers, B-Parts, Hey Harper entre tantas outras conseguem competir nos Estados Unidos em boa parte devido a essas ferramentas de automatização.

Do lado das políticas públicas, há também muito para fazer ao nível da requalificação, apoio aos investimentos em R&D e empreendedorismo, simplificação administrativa e alinhamento regulatório internacional (por exemplo, ao nível da transmissão de dados transatlânticos, sem a qual nada disto funciona).

Espero sinceramente que a nossa geração esteja à altura da responsabilidade de agarrar este momento e não deixar escapar esta oportunidade histórica para contribuir decisivamente para a internacionalização e competitividade da nossa economia.

 

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