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A Opinião de Manuela Vaz, Presidente da Accenture Portugal

A Opinião

de Manuela Vaz, Presidente da Accenture Portugal

A Europa pode (e deve) voltar a ser competitiva — juntos podemos inverter a tendência

Por Mauro Macchi, CEO da Accenture na EMEA, e Manuela Vaz, Presidente da Accenture Portugal

A competitividade da Europa está sob pressão. O tema domina a agenda dos líderes empresariais em todo o continente — incluindo em Portugal — e continuará a ser central nas estratégias para 2025.

O crescimento e a produtividade estão a desacelerar. A Europa enfrenta uma persistente escassez de investimento em inovação, com orçamentos de I&D significativamente inferiores aos da América do Norte e da Ásia-Pacífico. Este desequilíbrio compromete a capacidade de resposta do continente num mundo em rápida transformação.

De facto, a maioria dos líderes empresariais portugueses espera mais mudanças em 2025 do que em 2024 — uma perceção alinhada com os seus pares europeus (72%). Mas há um dado mais preocupante: os executivos europeus sentem-se menos preparados para lidar com essa mudança do que os seus homólogos norte-americanos. Se esta realidade não for enfrentada, o risco de uma nova perda de relevância global é real.

Acresce um contexto geopolítico instável, com desenvolvimentos recentes que agravam a incerteza. A imposição de tarifas comerciais por parte dos EUA — que incluem taxas até 50% sobre importações europeias — ameaça a já frágil posição competitiva da Europa. Ainda que muitas dessas tarifas estejam suspensas, o risco de uma escalada desordenada exige uma resposta europeia unida, estratégica e resiliente.

A tecnologia como catalisador

A boa notícia? Existem soluções ao nosso alcance — e a tecnologia é uma das mais poderosas. A adoção generalizada da inteligência artificial generativa (IA generativa), a tecnologia mais transformadora desde a Internet, representa uma oportunidade única para a Europa se reinventar.

A IA tem o potencial de impulsionar fortemente a produtividade, com ganhos estimados até 30% em alguns setores. Este impacto não é uma abstração: os líderes empresariais reconhecem-no claramente. Em Portugal, os executivos planeiam aumentar os seus investimentos em IA generativa durante 2025, em linha com a tendência europeia. Mais de metade dos decisores esperam expandir significativamente o uso da IA nas suas organizações — um salto notável face a 2024.

Mas há uma condição essencial: a implementação da IA é mais importante do que a sua simples adoção. O valor real desta tecnologia só será desbloqueado se for aplicada com foco nas pessoas, promovendo confiança, reduzindo fricções internas e investindo na capacitação de quem a utiliza.

Pessoas em primeiro lugar

A IA não é uma solução isolada. É uma ferramenta com imenso potencial, mas que só se concretiza quando os colaboradores estão preparados para a utilizar com confiança. Atualmente, cerca de 44% das horas de trabalho na Europa têm alto potencial de automação com IA generativa. No entanto, as empresas continuam a investir três vezes mais em tecnologia do que na formação dos seus talentos. Este desequilíbrio precisa de ser corrigido com urgência.

A formação contínua tem de ocupar um lugar central na agenda. É aí que nasce a confiança — e é também aí que se combate o receio, ainda generalizado, entre os trabalhadores. Um terço dos profissionais europeus acredita que a IA poderá levar à redução de postos de trabalho. Globalmente, 60% temem que a sua utilização aumente o stress e o burnout.

Estes receios não podem ser ignorados, caso contrário poderão atrasar a adoção da tecnologia e reduzir o seu impacto. As empresas têm de atuar como agentes de confiança, oferecendo formação adequada e criando diretrizes claras para o uso responsável da IA. Mais de metade dos trabalhadores afirma que se sentiria mais confortável com estas garantias — um dado que reforça a importância da capacitação como vetor de transformação tecnológica.

De iniciativas isoladas a estratégias integradas

Outra barreira à escala está na fragmentação das iniciativas de IA dentro das organizações. Atualmente, é frequente encontrar equipas a experimentar a tecnologia em silos, de forma descoordenada. Este modelo reduz drasticamente o impacto da IA e impede a concretização dos seus benefícios mais amplos: aumento da produtividade, inovação sustentável e melhor experiência para clientes e colaboradores.

Para maximizar resultados, as empresas devem apostar numa abordagem coordenada e transversal, com estratégias claras e infraestruturas digitais ágeis que permitam escalar com rapidez e segurança.

Uma ambição europeia

A transformação tecnológica não é apenas um desafio técnico — é também estratégico e organizacional. Requer sistemas robustos, colaboração entre equipas e um compromisso de todas as vertentes do negócio.

É aqui que a Europa, e Portugal em particular, têm uma oportunidade única de liderar. Mas só o conseguirão se apostarem num projeto federado, baseado em novos modelos de cooperação entre Estados-membros. Este projeto deve responder a desafios comuns — como tecnologia, energia, semicondutores, educação, formação e acesso ao capital — e criar condições para o surgimento de campeões europeus com escala global.

Num contexto internacional marcado por incerteza e disrupção, como as novas tarifas comerciais dos EUA deixam antever, a coesão, a inovação e a resiliência são imperativos.

A Europa tem os recursos e o talento. Agora precisa de audácia e ação coordenada. O futuro da competitividade europeia joga-se hoje — e o tempo para agir é agora.

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