A Opinião
de Cristina Rodrigues, Managing Director da Capgemini Portugal
A Nova Reindustrialização: Uma Oportunidade Estratégica para Reforçar a Aliança Transatlântica
A reindustrialização deixou de ser uma tendência emergente para se tornar uma prioridade estratégica para empresas e governos na Europa e nos Estados Unidos. Num contexto de crescente instabilidade geopolítica, vulnerabilidades nas cadeias de abastecimento e pressão para acelerar a transição energética, a reindustrialização representa uma resposta pragmática e visionária aos desafios do século XXI.
O mais recente relatório da Capgemini Research Institute, The resurgence of manufacturing | Reindustrialization strategies in Europe and the US – 2025, revela que 66% dos líderes empresariais estão a implementar ou a desenvolver uma estratégia de reindustrialização. Este movimento é impulsionado por fatores como a necessidade de proximidade aos clientes, a redução de riscos logísticos, a diversificação face à dependência da China e, sobretudo, pela urgência de reforçar a soberania industrial e energética.
Neste novo paradigma, a relação entre os Estados Unidos e a Europa assume um papel central que deverá prevalecer além dos ciclos políticos. A convergência de interesses em áreas industriais de soberania como os semicondutores, as baterias, a energia limpa/verde e as tecnologias avançadas, surge como uma oportunidade para impulsionar uma nova dinâmica de cooperação industrial. A aposta em modelos como o friendshoring, que privilegia o fortalecimento das relações com países aliados para produção e sourcing de matérias-primas, é um reflexo claro desta aproximação estratégica, a que se somam outras tendências recentes relacionadas com o onshoring, o reshoring e o nearshoring. O estudo da Capgemini evidencia que 73% dos executivos acreditam que o friendshoring será uma componente significativa das suas operaçõesnos próximos anos.
Este novo paradigma de reindustrialização além de ser uma questão de localização geográfica, consubstancia acima de tudo uma transformação tecnológica, cultural e geopolítica. A digitalização das fábricas, o uso da inteligência artificial, dos digital twins e da automação avançada estão a permitir ganhos de eficiência superiores a 20% e a reduzir significativamente os custos operacionais. Segundo o mesmo estudo, mais de 84% das organizações planeiam investir em tecnologia para acelerar esta transição.
Portugal, inserido em organizações multilaterais como a União Europeia e a NATO, com fortes laços com os Estados Unidos, assume uma posição estratégica para beneficiar desta nova vaga industrial de âmbito multissetorial, mas que poderá ter particular potencial no cluster associado à aeronáutica, ao espaço e à defesa ou mesmo no cluster do mar, nomeadamente no setor da energia ou da exploração de minerais raros. A capacidade nacional de atrair investimento, a qualidade da nossa engenharia e o compromisso com a sustentabilidade são ativos estratégicos que podem ser potenciados através de parcerias transatlânticas.
Enquanto líderes deveremos assumir o compromisso de promover a construção de uma economia mais inclusiva, verde e competitiva. Neste contexto, o processo de reindustrialização é, por si, também, uma oportunidade para redefinir o papel da indústria na sociedade, para promover a circularidade e para investir no talento qualificado das novas gerações. O estudo da Capgemini sublinha que 73% dos gestores executivos acreditam que a reindustrialização será um catalisador para práticas de produção mais ecológicas – uma visão que partilhamos e promovemos ativamente na nossa empresa.
Num momento em que o mundo enfrenta múltiplas transições (tecnológica / digital, energética, geopolítica), a reindustrialização surge como uma alavanca estratégica para reforçar a competitividade, a segurança e a sustentabilidade das economias ocidentais. A aliança entre os Estados Unidos e a Europa, assente em valores comuns e objetivos partilhados, reúne as condições para ser o motor desta nova era industrial resiliente a períodos desafiantes no panorama internacional.
A indústria do futuro nascerá da convergência entre tecnologia, inovação e sustentabilidade. Na Capgemini, o nosso compromisso é claro: liderar esta transformação e apoiar os nossos clientes e parceiros na construção de ecossistemas que inovem, que se adaptem e gerem novas mais-valias para a economia.