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A Opinião de Juan Carlos Portasany, Diretor Comercial na BMS

A Opinião

de Juan Carlos Portasany, Diretor Comercial na BMS

Desafios e Oportunidades no Setor da Saúde em Portugal

Desde janeiro de 2024, tenho tido o privilégio de ser acolhido em Portugal na minha nova função como Diretor Comercial na BMS. A nossa empresa, que no próximo ano celebrará 60 anos em Portugal, tem proporcionado aos pacientes portugueses medicamentos inovadores em áreas cruciais como o cancro do pulmão, gástrico, renal, melanoma, colorretal, mieloma múltiplo, doenças cardiovasculares, esclerose múltipla e artrite reumatoide, entre outras, e, além disso, no caso concreto do cancro, temos sido pioneiros a nível mundial no desenvolvimento da imunoterapia.

Na minha opinião, Portugal possui um potencial ainda por descobrir, com numerosos fatores que podem impulsionar o seu crescimento e competitividade nos próximos anos. Desde a minha chegada, tenho percebido e transmitido a ideia de que “Portugal está na moda”. Este país caracteriza-se pela sua segurança, uma taxa de endividamento e IPC controlados, uma baixa taxa de desemprego e uma previsão de crescimento do PIB superior à média europeia. Além disso, conta com uma excelente dotação em termos de infraestruturas e um alto nível de preparação da sua população, especialmente em termos de idiomas. Com três grandes polos geográficos como Lisboa, Porto e Algarve, e uma estrutura operativa político-económica centralizada, Portugal tem a capacidade de verticalizar as suas decisões estratégicas e, se quiser, pode fazê-lo de maneira ágil.

Uma das diferenças mais notáveis que percebi desde a minha chegada em relação ao meu país de origem é a importância que a saúde tem para a população portuguesa. Constantemente se abordam temas relacionados com a saúde nos meios de comunicação, e recentemente, um relatório1 publicado pela Associação TOP Health destacou que, entre as áreas de economia, política e segurança, a saúde é a principal preocupação dos inquiridos, com 81,7% classificando-a como a área de maior interesse.

No entanto, o mesmo estudo indica que 45% dos inquiridos consideram o estado da saúde em Portugal como mau ou muito mau. Perante estes dados, é necessário refletir sobre vários aspetos:

Em primeiro lugar, embora o orçamento destinado à saúde nos orçamentos do Estado esteja a crescer, a percentagem de dinheiro dedicada à saúde em Portugal está vários pontos percentuais abaixo da média da União Europeia em relação ao PIB.

Em segundo lugar, Portugal tem uma das percentagens mais altas2 de pessoas com mais de 65 anos no mundo (aproximadamente 1 em cada 4 pessoas), o que deveria levar a um aumento do orçamento destinado à saúde para garantir uma melhor atenção à população.

Na minha opinião, a indústria farmacêutica, especialmente a norte-americana, pode desempenhar um papel muito mais relevante no investimento no país e em ser parte da solução para esta perceção negativa dos portugueses. No entanto, para isso é necessário abordar vários aspetos que facilitem um maior investimento da indústria no país:

Aumentar o foco em ensaios clínicos: Os ensaios clínicos representam uma oportunidade para que os pacientes acedam aos medicamentos mais inovadores, uma oportunidade de desenvolvimento para os profissionais de saúde e uma fonte significativa de investimento por parte da indústria no país. Embora se tenha melhorado nos últimos anos, ainda há muito caminho a percorrer para melhorar de forma conjunta a indústria e a administração pública. No nosso caso, a BMS é a quinta3 empresa com mais ensaios clínicos ativos em Portugal (Atlas dos Ensaios Clínicos em Portugal, Apifarma 1ºS 2024) e poderíamos investir muito mais se o ambiente burocrático fosse melhorado.

Melhorar o tempo de acesso a medicamentos para os pacientes: Segundo o último estudo4 da EFPIA (junho de 2024), em Portugal demoram-se 710 dias (794 se forem oncológicos) desde que os medicamentos são aprovados na Europa até estarem disponíveis para os pacientes que deles necessitam, o que posiciona Portugal nas últimas posições da Europa, embora seja verdade que a taxa de disponibilidade em medicamentos oncológicos é das mais altas da Europa (73%). É fundamental continuar a trabalhar entre a indústria e o governo para reduzir estes tempos.

Eliminar as limitações ao crescimento empresarial: Para atrair investimento no setor da saúde por parte das empresas, especialmente multinacionais, é necessário eliminar qualquer tipo de restrição ao crescimento empresarial e considerar a saúde como um investimento e não como um gasto. Um recente estudo5 da Farmaindustria, a associação espanhola da indústria farmacêutica, indica que a indústria farmacêutica gera mais de 27.000 milhões de euros de valor acrescentado em Espanha, quase 2% do PIB do país, e Portugal tem a oportunidade de aproveitar o potencial desta indústria.

Agilizar os processos legais no âmbito empresarial: Para atrair investimento empresarial, é necessário que o ambiente legal não seja apenas seguro, mas também ágil quando as coisas não correm bem. Em casos de propriedade industrial e intelectual, é vital que os procedimentos judiciais sejam rápidos e que se garanta o período de exclusividade das patentes para fomentar o investimento da indústria farmacêutica em inovação.

A pandemia de COVID-19 deu-nos uma lição sobre a importância de repensar o que realmente é importante no nosso dia a dia. Demonstrou que sem saúde não há economia nem futuro. Agora veremos se aprendemos a lição e nos focamos no que realmente importa.

Referências:

1.- Estudo TOP Health apresentado na APIFARMA – Apifarma

2.- https://www.indexmundi.com/es/datos/indicadores/SP.POP.65UP.TO.ZS/rankings 

3.- Atlas dos ensaios clínicos em Portugal: Dados globais 

4.- https://www.efpia.eu/media/vtapbere/efpia-patient-wait-indicator-2024.pdf 

5.- La industria farmacéutica genera más de 27.000 millones de euros de valor añadido en España, casi el 2% del PIB del país – FarmaIndustria 

 

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